terça-feira, 19 de maio de 2009

A teologia contida dentro da musica “Meu Mundo é o Barro”, do Rappa

Alguns dias atrás estava parado no sinal de transito, quando ouvi uma musica vinda de um outro carro, quando uma frase me chamou a atenção. Ela dizia assim:

“Tentei ser crente, mas, meu cristo é diferente, a sombra dele é sem cruz, no meio daquela luz”

Essa musica não foi feita por nenhum “artista gospel”, mas foi feita pela banda “O Rappa”. Mas, bem que ela poderia ter sido sim escrita por alguma pessoa dita evangélica, pois ela retrata bem a realidade da igreja no momento em que vivemos: uma igreja sem cruz. Ela deixou de ser mencionada nas igrejas há anos, e ninguém se deu conta disso.

Jesus Cristo mencionou a cruz em seu ministério antes mesmo de passar por ela. Disse aos seus discípulos que, aquele que quisesse segui-lo, deveria renunciar a si mesmo, tomar a sua própria cruz e O segui-lo.

O apostolo Paulo disse que “a cruz é loucura para os que perecem”.

Sim, somente um louco pode querer falar de cruz em pleno século XXI, no auge do consumismo e do capitalismo; falar de cruz em uma sociedade permeada por valores hedonistas e narcisistas.

Como falar de cruz, de perdas, se os discursos religiosos das igrejas chamadas evangélicas são apenas discursos regidos pela lei do mercado?

Os cultos se tornaram palestras motivacionais, parecidas com aquelas que donos de empresas recebem para ganhar mais e vender mais. Os textos bíblicos são usados totalmente fora do seu contexto, apenas para “autenticar” esse pseudo-discurso.

A cruz, orgulho dos primeiros cristãos, se tornou motivo de vergonha para o cristão moderno. Cânticos que falam da cruz como lugar de renuncia já não existem mais. Quando se refere à cruz, fala-se da cruz como “tudo o que Jesus conquistou na cruz é direito nosso”. Os evangélicos conseguiram mudar até isso: um conceito histórico da cruz como lugar de negação para “a cruz como lugar de alcançar algo de Deus”.

Bonhoeffer, um teólogo alemão que viveu no século XX, disse:

“A graça barata é a graça sem a cruz. A graça preciosa é o tesouro oculto no campo, por amor do qual o homem sai e vende com alegria tudo quanto tem; a pérola preciosa, para adquirir a qual o comerciante se desfaz de todos os seus bens. É graça preciosa por custar a vida ao homem. Não pode ser barato para nós aquilo que custou caro para Deus (seu próprio Filho). A graça preciosa é a graça considerada santuário de Deus, que tem que ser preservado do mundo, não lançado aos cães. Foi essa graça preciosa que venceu esse discípulo (Pedro), levando-o a largar tudo por amor do discipulado”.

O que estamos vivendo é uma religiosidade barata, de pessoas vazias que se dizem cristãs, mas não seguem a Cristo, seguem na verdade o Capital, o seu deus, e se agarram a ele com todas as suas forças.

Agora, os evangélicos têm mais um grupo de musica pra admirar: “O Rappa”

Sejam bem vindos, Rappa, ao mundinho vazio, efêmero, alienante e ausente da cruz chamado “mundo gospel”